Quando alguém diz: Quero ser poeta!
É provável ouvir em contrapartida: Mas isso é só um hobby, não é? Porque a menos que tenha uma boa condição financeira, você precisa de uma profissão e um emprego formal, afinal, não se pode viver só de poesia.
Parece
uma opinião sensata? Não, não é sensata! A verdade é que já estamos tão acostumados
com esse ponto de vista, que até o aceitamos como realidade. Apesar da
possibilidade de desenvolver uma página para divulgar trabalhos artísticos na internet, ainda sim, há uma dificuldade imensa para se viver, formalmente, de
música, poesia ou teatro.
O processo artístico está diretamente ligado a atividade de
criar. A criatividade, basicamente, surge a partir de vivencias, observações e percepções,
individuais ou em grupo. Não há um curso especifico em que se aprenda a ser
criativo; A criatividade pode ser impulsionada através de livros e músicas,
mas, sobretudo, é preciso ter condições sociais para produzir e se desenvolver ideias.
A pergunta é, será que o Brasil possui essa estrutura?
Em uma das passagens do livro “Deu no New York Times”, o
jornalista Larry Rohter, comenta sobre o assunto, motivando uma reflexão:
“Quando deixei o Brasil pela primeira vez, em 1982, para me tornar editor regional da Ásia para a revista Newsweek, viajando de um lado para o outro entre Pequim, Hong Kong e Tóquio, fiquei impressionado com o fato de os criadores de cultura popular serem muito mais respeitados e até venerados na China e no Japão do que no Brasil. No Japão, por exemplo, os mais renomados praticantes de formas de artes consideradas essenciais para a identidade cultural da nação como Ikebana, a fabricação de espadas e teatro nô, são designados “tesouros nacionais” e recebem um estipêndio regular que lhes permite aperfeiçoar seu oficio, especialmente se não há mercado comercial suficiente para sustentar o que o que eles produzem.
Se um sistema como esse existisse no Brasil, seguramente um
de seus beneficiários seria meu amigo Dila, um criador de cordel e xilogravuras
que conheço desde a década de 1970. Dila, também conhecido como José Ferreira
da Silva, vive em Carueru, a alguns quarteirões do museu dedicado a Luis Gonzaga,
e é um gênio naquilo que faz; uma especialista em arte estrangeira que
entrevistei chega mesmo a comparado com Van Gogh. Mas como Brasil não valoriza
seu talento, ele vive de forma humilde, em uma casa pequeníssima que inclui a pequena e
primitiva gráfica que é a sustentação econômica dele e sua mulher. Totalmente negligenciado,
ele ganha pouco, muito pouco, com suas gravuras e cordéis sobre o cangaço, e a
luta para sobreviver acaba minando a criatividade dele e o deixa cansado e
deprimido. Ah, se ele estivesse no Japão!”
Imaginem, a quantidade de histórias semelhantes, à narrada no livro, existem no Brasil. Uns dos maiores problemas, é que a rotina reprime a criatividade, ou seja, é preciso produzir e não criar.
Infelizmente, estar envolvido com qualquer forma de arte no Brasil é muito desanimador. Eu adoraria dedicar minha vida 100%, pois só ela faz real sentido pra mim. Mas precisa ser um verdadeiro guerreiro pra abrir mão dessa tal rotina que nos persegue desde que nos entendemos como seres humanos.
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